O uso excessivo de celular em crianças: perigos e mudanças no comportamento dos pequenos

Julia S.
3 min readApr 23, 2020

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Apesar das adaptações dos aplicativos para o público infantil, a tecnologia não é benéfica para o desenvolvimento saudável e alguns conteúdos podem ser extremamente perigosos

Por: Júlia da Silva (Texto feito em laboratório prático de jornalismo, no Centro Universitário IESB — 700 palavras)

O fácil acesso e a variedade de conteúdos contidos na internet são tão atrativos para as crianças quanto abelhas são por mel. São tantos desenhos, cores, músicas que é impossível que as crianças passem por isso ilesas.

Uma prova dessa tendência é a adaptação de aplicativos para conteúdos infantis e infanto-juvenis, como por exemplo o Youtube Kids que segundo o Youtube Official blog, a plataforma possui 70 bilhões de visualizações no aplicativo e mais de 11 milhões de espectadores semanais ativos.

Mas talvez o contato com esses conteúdos não seja uma prática tão saudável. De acordo com estudo feito no periódico Scientific Reports, em 2017, o uso de smartphones e tablets pode prejudicar o sono de bebês e crianças.

A psicanalista infantil Alba Dezan fala sobre o uso de celular no desenvolvimento de crianças de 3 a 5 anos, e alerta: é extremamente prejudicial. “No quesito escolar, o uso excessivo de celular inibe o ‘lidar com pessoas e situações reais’, o que atrapalha o desenvolvimento de praticamente tudo”, ela continua: “a exposição a inúmeros estímulos impede a concentração em apenas uma coisa, algo que é necessário para estudar, por exemplo.”

Alba também diz que não vê nenhum benefício no uso dos smartphones por crianças muito novas e, segundo ela, é muito mais benéfico para o desenvolvimento o contato com o mundo real, e que o celular atrapalha as questões de coordenação motora e vida social.

“Entre 3 a 5 anos a criança irá aprimorar habilidades motoras, como percepção visual e espacial, e é a idade em que ela aprende a correr ou a pular em um pé só, por exemplo, essas coisas não são aprendidas na teoria”, explica a psicanalista, “Além disso, nessa idade ela começa a se relacionar efetivamente com outras crianças, mas se ela se atém demais ao celular ela nem olhará para outras crianças.”

Todos esses fatores que o contato excessivo com os aparelhos celulares podem causar, são preocupantes também para as professoras. Letícia de Oliveira, é professora no Colégio Paroquial de Santo Antônio e seus alunos são da faixa etária de 4 a 5 anos. A pedagoga diz que o celular pode colaborar para o desenvolvimento de déficit de atenção e vício, podendo resultar em ansiedade e dificuldades de aprendizagem.

Mas apesar disso, segundo ela, o uso do celular pode ser bom. “Com fins obviamente didáticos incentiva a criatividade, imaginação e a conectividade.” conta Letícia. A professora ainda diz que, atualmente, os pais têm utilizado o celular como uma babá. “Atualmente os pais estão cada vez mais comprometidos com seus afazeres e dizem não ter tempo para contar uma história, brincar, ensinar.” ela continua, “é muito mais fácil dar um celular na mão dos pequenos e deixar com que a internet ‘cuide’ deles, como uma babá.” Letícia opina.

Meiry Ruth tem 20 anos e é mãe da Ana Luiza, uma menina de 3 anos. A criança atualmente é criada somente com a presença da mãe, que precisa trabalhar como porteira no colégio em que a própria filha estuda. Meiry confessa que o celular pode “quebrar um galho”, mas procura evitar que a filha desenvolva vícios.

“Como mãe solteira eu preciso me multiplicar e o celular acaba quebrando um galho. Eu consigo fazer o que preciso, sabendo que a Ana está sentada, quietinha assistindo um desenho no Youtube ou jogando.”, ela continua, “Eu não quero sentir que eu e minha filha dependemos do celular e não quero que ela tenha contato com tudo, ainda mais com esse fenômeno da Momo”, diz a mãe.

Momo é como ficou conhecida uma escultura feita pelo artista plástico japonês Keisuko Aiso. A veiculação da escultura na internet, que parece saída de um filme de terror, começou no whatsapp, com números estranhos mandando mensagens tendo a foto da Momo como a de perfil. Em seguida, a “brincadeira” se transformou no “desafio da Momo”, onde a personagem apareceria de repente entre vídeos inocentes do Youtube Kids, incentivando as crianças a cometerem delitos, agredir os pais e até tirar a própria vida.

“Todo cuidado é pouco”, ressalta Alba. Com o surgimento de “brincadeiras” como Momo ou a Baleia Azul, as plataformas disponibilizam formas dos pais filtrarem e monitorarem os conteúdos. É possível conferir algumas dicas no artigo do site Tech Tudo.

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Julia S.

Comunicadora (nome chique pra Faladeira). Sou formada em jornalismo e aqui falo sobre escrita, leitura, marketing e outras descobertas aleatórias 🔎