Influenciadores digitais também sentem

Julia S.
5 min readJan 16, 2020

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Quebra de barreiras! Influenciadores abrem seus próprios corações para encorajar seus seguidores a falarem sobre ansiedade.

Por: Júlia da Silva (Trecho da reportagem ganhadora do 1º lugar do Projeto Integrador de Jornalismo da faculdade IESB em 2018–1000 palavras)

Antes da ascensão da psicologia, no começo do século 20, ninguém pensava muito sobre sáude mental. O sentimento de ansiedade era classificado como medo. Por serem produzidas na mesma área do cérebro, essas duas sensações são muito parecidas. De fato, a ansiedade é uma espécie de medo, mas foi o psiquiatra Aubrey Lewis, em 1967, que diferenciou uma coisa da outra: “Um estado emocional com a qualidade do medo, dirigido para o futuro”.

A ansiedade é um medo natural do futuro, mas com a mudanças de tempo e de comportamento acabou se tornando uma das doenças do século XXI. Estamos agora na geração Z, caracterizada pela rapidez de informações e a urgência para fugir do tédio, o que é normal para uma era que foi criada na internet. Como essa vida online tem interferido na produção da ansiedade?

Infelizmente na internet somos expostos a julgamentos constantes e isso pode ocasionar inseguranças. Esses meios sociais passam a ser uma forma de obter uma realização pessoal como elogios, ‘likes’ e comentários. Mas a internet também tem levado à conscientização acerca desses problemas de diferentes formas. Os influenciadores digitais, por trabalharem de forma pessoal com seu público, conseguem esclarecer mais sobre o que é ansiedade com muita extroversão. Alguns youtubers passam por situações de ansiedade e contam abertamente como eles lidam com isso.

O youtuber PC Siqueira, do canal “MasPoxaVida”, conta no seu vídeo o que acontece quando ansiedade se torna um problema sério: “Tudo começa com uma coisa pequena, uma frustração, alguma coisa boba, você deixa para lá, mas em algum momento seu coração começa a palpitar, mesmo com nada acontecendo”. O youtuber começa a falar de diferentes estágios da ansiedade até se tornar uma síndrome do pânico, e ele descreve a doença: “Um medo de algo muito ruim que está prestes a acontecer, mas você não sabe o que é, e sua cama, debaixo da coberta, é o único lugar seguro para fugir daquele monstro que vai chegar através de uma mensagem, uma ligação, alguém batendo na porta, mas nunca chega nada”. Ele deixa claro que passou por isso, que o sentimento de invalidez e culpa são a pior parte da doença. No vídeo, aconselha a não cobrarem demais pessoas que passam por essa situação: “Você tem que entender que algumas coisas que são muito fáceis pra você, podem ser muito difíceis pra ela”.

A ex-jornalista da Capricho Karol Pinheiro, em seu canal no youtube, também conta suas experiências. No vídeo “Como lidar com a ansiedade (e síndrome do pânico)” ela fala de forma descontraída que ela foi uma criança ansiosa e que tinha alguns sintomas de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). O fato de nunca ter sido levada a um psicólogo agravou o caso: “Só as pessoas me dizendo que eu não deveria ser tão ansiosa não funcionava, e obviamente depois de velha uma hora isso ia explodir na minha vida e quando explodiu eu tinha crises de ansiedade e isso virou uma síndrome do pânico”. Ela continua contando no vídeo como isso agravou seu comportamento: “Eu não conseguia sair sozinha, não conseguia dirigir, eu ia para o hospital por qualquer coisa, eu achava que ia morrer”. Ela afirma sem medo que precisou de acompanhamento médico e recomenda a procura do psicólogo. A Karol continua o vídeo contando que ainda precisa conviver com a ansiedade, que é parte da sua personalidade: “A minha ansiedade transforma coisas boas e prazerosas na minha vida em grandes questões”. Mas ela também diz, ainda no vídeo, que a ansiedade teve lados bons em sua vida: “A minha ansiedade me fez caminhar até onde eu estou, por que um ansioso quer fazer logo as coisas”.

A Bruna (mais conhecida como Niina), do canal NiinaSecrets, fala também das suas ansiedades, com a participação da Karol Pinheiro. No vídeo “Vamos falar sobre ansiedade?”, as duas conversam sobre serem pessoas ansiosas. Elas afirmam no começo do vídeo que: “Pessoas ansiosas vivem no futuro e não no presente”. Na conversa, as duas descobrem que são bem ansiosas em níveis diferentes. “Algumas coisas eu sei que é preciso paciência para elas acontecerem, mas eu acho que meu problema maior com ansiedade são coisas do dia-a-dia”, conta Niina. A Karol diz que aprendeu a lidar com pequenos compromissos e que agora sua maior questão com a ansiedade são os grandes eventos: “Quando tem grandes acontecimentos, coisas novas, aí eu fico ansiosa”.

A Júlia, do canal “JoutJout Prazer”, deixa bem claro já no nome do vídeo que ansiedade é algo, que até certo nível, é normal! No vídeo é óbvio que você tá ansioso, ela reconhece que viver em sociedade significa estar soterrado de expectativas como: “Ter um namorado, fazer faculdade, ter um bom emprego, ganhar bem, ser interessante, bonito”, entre outras questões. Ela pontua que não tem como não se sentir ansioso por sentir que essas expectativas devem ser correspondidas: “Expectativas da família, amigos, dos professores, dos colegas de classe e suas auto expectativas”. Ela continua: “Acho coerente você estar ansioso”. O conselho da youtuber basicamente é: “Aprenda a ficar mais de ‘boinha’ com as coisas do mundo”.

É importante também ver outras perspectivas do que é sentir ansiedade. “A ansiedade causada pela internet” é o vídeo do canal HelMother, no qual Helen (a dona do canal) e Júlia debatem o assunto. Elas falam sobre o que é o FoMO (Fear off missing out), que é a constante ansiedade e medo de perder eventos que estão acontecendo — provocando dependência da internet. De acordo com as influencers, a FoMO provoca nelas o que elas chamam de “saudades de momentos reais”, o que elas classificam como ter conversas sem olhar tanto para o celular, momentos familiares etc. “Eu, Helen, acho que as redes sociais te instigam a ter mais ansiedade e produzir umas coisas que não são da nossa personalidade por uma questão de aceitação”, diz em vídeo. E isso levanta uma questão entre as duas youtubers: “Nós saimos da rede social: para onde vamos agora?.” Elas recomendam no vídeo esse desligamento das redes sociais, que é preciso perceber que a “internet nos faz pensar que apreciar as coisas é perda de tempo.”

A ansiedade tem sido sentida e notada, é preciso ir além de saber da existência dela, ter a empatia necessária para lidar com ela! Dentro da influência digital, é possível ter visões de pessoas que por vezes não pensamos que passam pelas mesmas situações que qualquer outra pessoa. Ansiedade é uma realidade.

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Julia S.

Comunicadora (nome chique pra Faladeira). Sou formada em jornalismo e aqui falo sobre escrita, leitura, marketing e outras descobertas aleatórias 🔎