Gordofobia existe sim!

Julia S.
3 min readJan 16, 2020

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Preconceito por um corpo. A gordofobia assola mulheres em tempos de padrões de estética inalcançáveis.

Por: Júlia da Silva (Trecho da reportagem ganhadora do 1º lugar do Projeto Integrador de Jornalismo da faculdade IESB em 2018– 600 palavras)

Gordofobia

Fobia. Palavra originária do grego phóbos, que significa medo ou aversão a algo.

Entende-se, de forma literal, que a gordofobia é o “medo” de pessoas gordas, ou ainda, o medo inconsciente de ficar ou ser considerado gordo.

A palavra já é conhecida, mas ainda não é disseminada o suficiente para a conscientização desse preconceito. Pesquisa realizada em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) afirma que a gordofobia está presente na vida de 92% dos brasileiros. Isso afeta principalmente as mulheres. Elas, que são naturalmente julgadas pela aparência, quando gordas, sofrem ainda mais.

Segundo estudo feito em 2016 pela Universidade Cornell, as obesas em geral têm 50% menos chances de frequentar o ensino superior, 20% menos chances de se casar, sete vezes mais chances de ter depressão e recebem 9% a menos que mulheres não obesas.

O Relatório Global de autoconfiança feminina Dove (Dove Global Beauty and Confidence Report), divulgado em 2016, diz que, mundialmente, 71% das mulheres e 67% das meninas querem que a mídia se esforce mais para retratar mulheres com diferentes tipos de beleza física. Isso porque é quase parte da cultura mundial que as capas de revistas, mocinhas de novelas, apresentadoras de TV e até mesmo bonecas infantis sejam magras. A famosa boneca Barbie é um exemplo disso.

Essa valorização da magreza na mídia fez com que, mesmo inconscientemente, o corpo magro se tornasse uma referência para definir o que é um corpo “normal” e saudável. “Lá nos primórdios ser gordo era ser errado, preguiçoso e uma pessoa que não cuidava da saúde”, afirma em entrevista a consultora de moda Lilian Lemos. Hoje, ela dá workshops e palestras sobre moda para mulheres plus size e também possui um perfil no Instagram com 20,3 mil seguidores.

Lilian reconhece seu corpo com sinceridade e afirma que o autoconhecimento é importante. “Quando nos conhecemos fica muito mais tranquilo lidar com a barriga grande, as celulites nas pernas, a papada no pescoço e os seios muito grandes”. A consultora ainda afirma que para conquistar a aceitação basta dar o primeiro passo. “A partir do momento que você realmente dá o start e fala ‘vou mudar, vou me aceitar’, você deixa de viver nessa ‘deprê’ a vida toda e de se sujeitar a situações péssimas”.

Porém, apesar da força de vontade, a estudante Letícia Chacon comenta que as mulheres gordas precisam se encontrar e se sentir representadas pelas pessoas que elas veem nos meios de comunicação. Mulheres gordas não são representadas na mídia o bastante. E, quando há uma representação, geralmente acontece de forma pejorativa, reforçando os padrões estéticos de magreza.

Na internet, mais especificamente dentro do universo das influenciadoras digitais plus size, existem dois lados: mulheres que propagam seus estilos de vida em busca do “corpo perfeito” e mulheres que estimulam a aceitação do próprio corpo. A paulistana e instagramer Juliana Romano é um exemplo disso. Ela revolucionou as representações da mulher gorda, sendo capa de revistas como a Elle e a Playboy.

Juliana Romano posando para revista Elle

O fato de que as influenciadoras digitais plus size tem garantido uma evolução na representação da mulher gorda é algo essencial para a desconstrução da gordofobia. A psicóloga Maíra Alves afirma que quando a mídia apresenta um estereótipo de corpo, ela contribui com o preconceito. “Quando a indústria vende um padrão de corpo como o padrão ideal e não apresenta outras variações físicas, ela de algum modo contribui não só para a gordofobia, como para outras questões também.” Segundo Maíra, a gordofobia pode acarretar em distúrbios alimentares e processos depressivos, mais um motivo para se tornar uma questão de debate nos meios de comunicação.

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Julia S.

Comunicadora (nome chique pra Faladeira). Sou formada em jornalismo e aqui falo sobre escrita, leitura, marketing e outras descobertas aleatórias 🔎